quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A competição que não funciona

Maria Silvia Monteiro Costa

EMPRESA PODEROSA - Por experiência pessoal, por observação e pelo número de publicações, sites e gurus de "auto-ajuda corporativa" eu afirmo, sem medo de errar, que o modelo de gestão que prima pelo estimulo da competição no ambiente interno já não vale mais para os dias atuais e posso suportar esta minha tese pelos sintomas colaterais que a competição interna desenvolve nos colaboradores de todos os níveis. 

Grande parte das relações interpessoais nas empresas são baseadas no medo. O medo é a origem de todos os males mas nas empresas ele se manifesta nas encenações nas reuniões, agendas pessoais, divisão por feudos, gestão por conflitos e na manipulação de todo o tipo. Isto, muitas vezes, tem inicio no board e se reverbera nos níveis mais baixos.

Onde a competição é um valor corporativo não há clareza das regras de conduta e convivência. E é esta a receita de sucesso para a criação de um cenário que opera pelo medo.

Do medo também nasce a necessidade de se manter alerta, vigilante e na posição de defesa porque também se cria um sentimento muito forte de posse: "Tenho que defender o meu cargo, meu salário, meu bônus, o meu, o meu, o meu... e para isto, tenho que me aliar com este ou aquele e ficar atento aos "sinais"."

Quem pode viver bem assim? Quem pode produzir assim? Quem pode ser criativo assim?

Não gostaria de que este artigo soasse como um discurso tipo "Poliana" porque o meu entendimento sobre as empresas é bem claro: elas estão ai para promover o desenvolvimento, gerar riquezas, ter lucros etc. Mas já presenciei colegas investindo um tempo enorme do seu dia de trabalho formulando enredos incríveis sobre outros colegas e sofrendo. Sempre me perguntei se todo aquele tempo não seria melhor utilizado se fosse aplicado no trabalho em si. Ao invés de se preocupar tanto com o cenário político, se preocupasse em trazer para a empresa a melhor solução para o desafio que estava sendo apresentado naquele momento. Perdi horas de "terapia" ouvindo os colegas. Tive uma experiência em que minha gestora tinha medo de perder o emprego e, para tranquilizá-la, cheguei ao limite de dizer que ela não se preocupasse comigo - pelo menos !!! - porque eu não desejava a posição dela. Quem pode trabalhar bem assim?

As empresas sabedoras disto tentam soluções no nível do problema e operam por meio de campanhas de incentivo e campanhas de comunicação interna "cosméticas" que reforçam ainda mais o padrão.

Quando o líder e o colaborador tem a sua agenda diária pautada por estas preocupações não existe terreno fértil para a criatividade. Quando tenho a minha mente voltada para uma agenda positiva, consigo ser criativa na solução de problemas, na formulação de propostas comerciais, na elaboração de produtos e serviços vencedores e consigo liderar e inspirar todos aqueles que estão ao meu redor para agirem nesta direção. Que, alíás, é a direção da maior produtividade e rentabilidade.

(* MOMENTO CURIOSIDADE: existem dois livros "The Rise of Creative Class", "The Flight of the Creative Class" que provam por A+B que o índice de desenvolvimento criativo de um país se mede pelo avanço em tecnologia, talento e tolerância. Nos países avançados, as pessoas criativas são a espinha dorsal da economia. Regiões em que há agrupamento de pessoas criativas apresentam maior crescimento.)

A solução deste cenário pede esforços de várias frentes mas para nós, Profissionais de Comunicação Corporativa cabe chamar a atenção do board das empresas sobre alguns aspectos:
_ alinhamento da imagem externa com a interna pela consistência de discurso e prática;
_ aplicar os valores da empresa;
_ promover a cultura organizacional e colocá-la como prioridade da gestão;
_ dar vida as obrigações de um Líder;
_ valorizar e priorizar o relacionamento de ganha-ganha com os stakeholders, 

E, por último e por ser a razão de existir deste blog, promover e debater sobre a importância da inserção de um Propósito nas Empresas. As empresas precisam encontrar uma razão mais nobre para a sua existência, crescer em relevância para as pessoas e fazer diferença para aqueles que nelas trabalham. É do envolvimento emocional que o colaborador tem com a sua empresa que trará o ENGAJAMENTO tão desejado. Dê motivos ao colaborador para ele gostar e lutar pela empresa. E, principalmente, com o sentimento de conexão estabelecido, ele se tornará um excelente defensor da sua marca nas redes sociais! Poderia continuar o artigo fazendo uma lista imensa de benefícios para ambos os lados.

Sou contratada para ajudar as empresas a perceberem que podem e devem investir na construção de relacionamentos sustentáveis com todos os seus stakeholders e ainda ganhar muito dinheiro com isto. Invisto muito tempo tentando mostrar e provar que estas duas coisas - bons relacionamentos e ganhar dinheiro - podem andar de mãos dadas mas isto depende de condições básicas que só são possíveis em ambientes colaborativos e não competitivos.

Fonte do Momento Curiosidade: Marketing 3.0 Philp Kotler, Hermawan Kartajaya, Iwan Setiawan

Maria Silvia Monteiro Costa é Executiva de Marketing e Comunicação Corporativa

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