sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Bonner e a armação da Globo

Por Graça Lago, no blog Viomundo:

Explicando definitivamente – tenho 63 anos, 50 de militância política e 46 de jornalismo. O prêmio com o nome de papai foi instituído em 2002, ano em que morreu, e parecia uma homenagem bacana à memória dele. Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores.

Nada especial, mas que poderia manter a sua lembrança viva. Bacana. Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso.

Durante todos esses anos, o prêmio se manteve em um patamar honesto, com homenagens a diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um ou outro, nenhum ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia, é importantíssimo registrar.

Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo.

Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. A começar, o Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos. O evento virou um circo de elogios instrumentalizados. Enaltecer a “imparcialidade” com que ele e sua parceira conduziram as entrevistas com os presidenciáveis é esquecer que ele não deu espaço para uma só resposta de Dilma Rousseff; é esquecer que ele e sua parceira ocuparam mais da metade do tempo estipulado para a entrevista com a presidenta. É esquecer que esse tratamento não foi dedicado a qualquer outro entrevistado.



É esquecer que, mesmo no auge das denúncias sobre os escândalos dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, o sr. Aécio não foi pressionado nem um terço do que foi Dilma Rousseff para explicar os flagrantes delitos dos empreendimentos. É esquecer que, mesmo frente às denúncias da ilegalidade do jato de Eduardo Campos, a sra. Marina não teve qualquer questionamento contundente (e viajava, sim, no jato). Isso para não falar de mil e outros atos de atentado à informação praticados no JN, como bem foi demonstrado pelo laboratório da UERJ.

E não parou aí. Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia.

Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca terá.
Se a intenção foi política, politicamente me manifestei.

Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à memória de meu pai. Mário Lago era um homem político, e assim se manifestava e comportava cotidianamente. Não aceitaria, jamais, ser manipulado por excrecências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas por discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu salário com a maior decência.

Por sua postura, mereceu a admiração e o respeito até de homens como Roberto Marinho. No final dos anos 60, o Exército informou à Globo que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército.

Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma: “se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito por ele”. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa farsa montada nesta premiação ao jornalismo mais instrumentalizado e faccioso deste país.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Depois do Natal, é hora de liquidar

Bruno Caetano

A vida não está fácil para as micro e pequenas empresas (MPEs) do comércio em 2014: as receitas do setor registram queda de 4,8% no acumulado de janeiro a outubro na comparação com o mesmo período de 2013, segundo pesquisa do Sebrae-SP. O Natal, por ser a melhor época do ano para o varejo, deve proporcionar algum reforço no faturamento, mas em seguida vem a fase pós-festas, de movimento fraco. Contudo, uma liquidação bem feita pode ajudar o lojista a tirar proveito desse momento e desovar o máximo possível de mercadorias que não tiverem saída.

O trabalho começa em seguida à virada de ano, quando será hora de avaliar as quantidades e a variedade de itens em estoque. É preciso haver produtos suficientes para justificar e suportar uma liquidação, com opções capazes de atrair o consumidor. Lembre-se de que muita gente retorna para trocar presentes de Natal e é uma boa ocasião para tentar novas vendas.

Toda liquidação tem de ter datas de início e encerramento, que devem ser cumpridas. Uma promoção desse tipo sem tempo determinado ou que é prorrogada dá impressão de fracasso e compromete a credibilidade do negócio perante o cliente, que passará a desconfiar quando houver outras ações iguais.

A loja precisa entrar no clima de promoção. Produtos com desconto devem estar sinalizados, destacando-se dos outros. Use recursos visuais para mostrar que há algo diferente acontecendo. Porém, tenha cuidado para não descaracterizar o ambiente. Seu público vai estranhar e se afastar caso a estratégia se choque com o perfil dele e do estabelecimento. Uma coisa é chamar a atenção, outra é comprometer a identidade da empresa.

Divulgue a liquidação. Se o consumidor não souber que há oportunidade de pagar menos, nenhum esforço terá resultado.

A equipe deve estar treinada e familiarizada com a ação. Falta de informação e discrepância entre o que foi anunciado e o que o vendedor fala prejudicam qualquer iniciativa.

Use essa temporada para cadastrar novos clientes, coletar dados para futuras iniciativas de marketing e saber qual a percepção do público sobre seu negócio.

A liquidação é uma boa saída para aquecer uma época de baixa. Comece a pensar no assunto desde já.

Bruno Caetano é diretor superintendente do Sebrae-SP

domingo, 21 de dezembro de 2014

Fux impediu o golpe paraguaio de Gilmar

DOM, 21/12/2014 - 16:32

Começam a ficar claras as razões que levaram o Ministro Gilmar Mendes a aprovar as contas de campanha de Dilma Rousseff.

Tudo encaminhava para a rejeição:

a campanha prévia da mídia preparando o clima;
a ofensiva do PSDB estimulando as manifestações de rua, que levaram até o insondável José Serra para a linha de frente;
o empenho de Gilmar em convocar áreas técnicas do Banco Central, COAF, Receita e TCU para proceder a um pente fino nas contas;
o parecer técnico da Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias, condenando as contas e amplamente enviezado, a ponto de enquadrar como falta grave o mero fato de máquinas trituradoras de papel terem sido declaradas como bens não duráveis;
o próprio voto de Gilmar, destoando completamente de sua própria decisão final, de aprovar as contas, ainda que com ressalvas.

Gilmar voltou atrás quando percebeu que seria derrotado em plenário. A corte é composta por 7 ministros. Votam seis. Havendo empate, o voto de Minerva é do presidente.
Contra Dilma havia o voto de Gilmar Mendes e de João Otávio Noronha, ligado a Aécio Neves. Com mais um voto, no mínimo haveria empate e a decisão final sobre o mandato de Dilma seria de Toffoli.

A batalha maior foi em torno do voto de Luiz Fux. Apesar da insistência de Gilmar, Fux não aceitou matar no peito e votar pela rejeição das contas de Dilma. Sem chance de vitória, Gilmar acabou recuando no seu voto.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Uma análise calma e otimista da conjuntura política

14 de dezembro de 2014 | 05:52 Autor: Miguel do Rosário


Na foto, Dilma jovem. A presidenta completa hoje 67 anos.



Há tempos que eu queria escrever um texto calmo.

Calmo e otimista. Nem que seja uma calma e um otimismos um pouco fingidos, apenas para apaziguar o espírito.

Acho que todos, no fundo, ansiamos desesperadamente por isso: paz.

Então vou escrever um texto calmo e otimista.

A mídia não nos deixou descansar.

Pulamos de um primeiro turno frenético para um segundo turno sombrio, cheio de aves de mau agouros cruzando o céu, prenunciando o início de uma era de retrocessos.

Uma era de investigações abafadas e perseguição aos críticos do governo.

Felizmente, os agouros não se realizaram e Dilma ganhou.

À vitória de Dilma, porém, seguiu-se um terceiro turno paranoico, fértil em teorias de conspiração, algumas embasadas em fatos realmente estranhos.

Vencida todas estas etapas, zarpamos enfim para o alto mar.

Sim, o golpismo continua vivo e atuante. Todos os dias teremos uma novidade.

Entretanto, gostaria de citar nosso amigo Merval, que outro dia disse que havia dois tipos de corrupção.

Uma boa, tucana, que seria “tradicional, por assim dizer”.

E uma outra maligna, petista, que visa o poder pelo poder (outra citação, desta vez de Osmarina).

A mesma coisa vale para o golpismo. Há um golpismo do mal, que vislumbramos neste terceiro turno.

Não sabemos até que ponto esse golpismo do mal foi paranoia nossa.

Mas havia alguma coisa, efetivamente, cheirando mal.

O discurso raivoso do presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli, contra Dilma, não ajudou em nada a afastar as suspeitas de conspiração.

Os xingamentos de Gilmar Dantas aos “blogs sujos”, idem.

Mas além desse golpismo do mal, que foi vencido, há o golpismo “tradicional, por assim dizer”, que é a nossa cruz de cada dia.

Então vamos a ele e passemos à agenda de hoje, à Operação Lava Jato.

Este sábado foi particularmente pesado.

Já temos até um novo apelido para a Lava Jato: Vaza Jato.

Os portais de notícia da grande mídia inundaram-se de depoimentos feitos por uma bandidagem subitamente arrependida.

A Constituição diz que delação premiada tem de ser feita em sigilo, pelo bem da investigação.

Porque senão teremos a repetição aqui do caso do italiano Enzo Tortora. Os bandidos ouvem a delação de um comparsa, na mídia, e seguem a mesma história.

Falam o que a mídia quer ouvir. Combinam narrativas.

Não quero, contudo, falar mal da Lava Jato.

A Lava Jato é uma investigação importante, que vai proporcionar avanços para uma cultura corporativa mais hígida na Petrobrás, nas estatais e em todas as grandes empresas que fazem negócios com o Estado.

Os excessos cometidos agora, contanto que não estraguem a investigação, poderão ser moderados no Supremo Tribunal Federal, onde o processo inevitavelmente irá terminar, porque envolve políticos.

Realmente, é algo novo.

Não se pode mais falar de impunidade, porque apenas a prisão e o marketing negativo já produziram danos incalculáveis às reputações de executivos, empresas e servidores envolvidos.

Claro que ainda há enormes riscos de manipulação política, mas a correlação de forças na sociedade, hoje, está um pouco mais equilibrada.

Será muito mais custoso para a mídia, ou quase impossível, construir uma narrativa tão fantasiosa, para o escândalo da Petrobrás, como foi o mensalão.

Eles vão tentar, e talvez até consigam. Mas não por muito tempo. E dará muito trabalho, e lhes tomará tempo e reputação.

Neste ponto, a nossa fraqueza, a nossa pequenez diante da grande mídia, é a nossa maior força, porque é nosso atestado de honestidade: não fomos criados no mesmo berçário que as empreiteiras. A mídia foi.

São todos filhotes da ditadura.

As redes sociais, a blogosfera, por sua vez, não tem interesse em proteger ninguém.

O campo progressista não é tolerante com a corrupção.

Se há gente do governo ou da base aliada envolvida, que todos sintam o peso da lei.

Há uma justiça poética que nos tranquiliza, ou deveria nos tranquilizar.

Temos um governo que se deixa investigar.

Temos um governo que não construiu um sistema autoritário que pudesse tolher o trabalho das instituições, de investigarem o próprio governo.

A família inteira de Lula sofreu devassa pela Polícia Federal.

O irmão de Lula chegou a ter a sua casa revistada pela PF, ainda no governo Lula.

Isso é um sinal de transparência e vigor democráticos.

Lendo sobre a corrupção no Iraque, ou no México, o principal problema apontados por analistas é que esses governos não permitem que nenhuma investigação atinja pessoas influentes, próximas ao poder.

Claro, temos que cuidar para evitar uma nova farsa judicial, como foi a Ação Penal 470, na qual se usava justamente esse argumento, que é uma teoria de linchamento.

Na falta de elementos probatórios, defendia-se a condenação dos réus com base no “sentimento das massas” e na necessidade de mostrar ao populacho que, pela primeira vez na história, políticos graúdos eram presos.

Pois bem, foram presos.

Injusta ou justamente, a lei foi cumprida, e a mídia pôde mostrar ao populacho que “poderosos” foram condenados e presos.

Santo Agostinho explica que uma república e um povo só podem existir se há justiça, e justiça boa.

A injustiça, ou uma justiça mal feita, aniquilam a essência da república, que é promover a felicidade do povo.

Sem felicidade, não há justiça, nem república, nem povo, apenas um amontoado caótico de seres humanos.

Esta é a justiça poética: quanto mais a Polícia Federal investigar corrupção dentro de uma estatal e quanto mais ela se aproximar de algum figurão da base aliada, ou mesmo do PT, mais estará demonstrado que a democracia avançou no atual governo, e que Dilma falou a verdade quando prometeu que não ficaria pedra sobre pedra.

O clima, enfim, melhorou sensivelmente, mesmo diante da avalanche histérica de vazamentos da Lava Jato, alguns deles com histórias mirabolantes, que ainda precisam ser analisadas por uma investigação mais objetiva.

Investigação esta que não será feita pela imprensa familiar, cujo interesse pelos escândalos sempre parece evaporar quando aparece um tucano na história.

A mídia tem se enrolado cada vez mais em suas contradições.

A própria comparação de Merval, separando uma corrupção boa, tucana, e uma corrupção ruim, petista, mostra que a mídia quer vender a teoria que o PT praticava corrupção com fins “revolucionários”.

Só que entre corruptos e corruptores presos na Lava Jato não havia ninguém interessado em implantar um regime “bolivariano” no país.

Os empreiteiros presos não são petistas, nem de esquerda, nem comunistas. Os servidores corruptos da Petrobrás, idem.

A corrupção na Petrobrás é uma corrupção “tradicional, por assim dizer”.

Há mais de dez anos que o PT é o partido que mais ganha dinheiro do fundo partidário e recebe mais doações legais de grandes empresas.

Mesmo recebendo doações de empresas, o partido defende uma reforma política que imponha o financiamento público, exclusivo, de campanha eleitoral.

Não teria sentido, portanto, o PT, enquanto partido, receber dinheiro de propina de empreiteira.

Se há petista envolvido, era “corrupção tradicional, por assim dizer”.

Além do mais, a troco de que o PT investiria tanto na renovação da Polícia Federal, contratando milhares de novos delegados e agentes, estabelecendo autonomia de investigação e se recusando a realizar qualquer interferência na instituição?

Os “petralhas” seriam então os corruptos mais burros do mundo. Não, peraí, seriam inteligentes para roubar sem serem pegos e burros para dar autonomia a PF?

Se a intenção fosse roubar para o partido, o PT teria feito o que fez FHC: reduzir a PF, asfixiá-la, convertê-la numa instituição de araque, que só aparecia no Jornal Nacional, de vez em quando, para queimar algumas toneladas de maconha. E devia ser maconha já vencida, que os traficantes entregavam à polícia para montar um teatrinho junto à opinião pública.

Todos os elementos, portanto, concorrem para dar mérito ao PT, a Lula e à Dilma pelo combate à corrupção no país.

Há corrupção no PT, no governo e nas estatais?

Sim.

Mas há também investigação e punição.

O próprio fato dos delegados e agentes da PF responsáveis pela Lava Jato serem tucanos assumidos, que xingam Lula e Dilma nas redes sociais, me parece, à parte a falta de educação com seus superiores ou ex-superiores hierárquicos, uma mostra da extraordinária liberdade democrática vigente em nossas instituições.

É exatamente o contrário do que eles dizem ser o “chavismo” ou “bolivarianismo”.

Quem aparelha as instituições, quem criminaliza a opinião adversária, quem censura imprensa, até onde sabemos, são os tucanos.

Para finalizar, eu acho que algumas coisas vão mudar para melhor no governo, na comunicação e na política, até porque ele será forçado a isso.

A pressão e a crítica, todavia, são necessárias, naturalmente, para que o jogo de forças dentro do governo seja vencido pelo campo popular.

Não é só o governo Dilma que tem de aprimorar a sua atuação política.

A sociedade precisa se mobilizar mais, nos sindicatos, nos movimentos sociais, em toda parte.

De qualquer forma, Dilma está mais experiente, e convencida de que precisa estabelecer um diálogo mais frequente e mais profundo com suas bases, no congresso e na sociedade.

Ela já reiterou essa disposição. E se realmente for assim, mudanças virão.

E mesmo que ela traia as suas promessas de diálogo, o que não acredito que vá acontecer, as mudanças virão de qualquer jeito, porque nem a inércia do governo tem o poder de parar as rodas da história.

O debate sobre a democracia da mídia, por exemplo, ganhou força. Nunca esteve tão presente na ordem do dia.

A mídia ampliou seu exército de zumbis, mas o campo popular também se tornou mais consciente do papel da comunicação na luta política.

Tudo isso reflete um processo de mudança na correlação de forças, um processo que dificilmente podemos enxergar ou entender completamente, porque estamos mergulhados nele.

Há um processo histórico em curso que nos ultrapassa, e a vitória será dada a quem estiver do lado certo.

Não creio que o lado certo, numa democracia, seja o monopólio da informação e das empresas que se enriqueceram na ditadura.

Resta apenas saber se os próximos momentos da nossa história estarão ou não ao lado da democracia.

Eu acho que sim.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O dia em que a enteada de Gilmar salvou a vida de Genoíno

SEG, 15/09/2014 - 13:38 - ATUALIZADO EM 12/12/2014 - 10:42

Luis Nassif

Larissa Feitosa alertou o juiz da Vara de Execuções Penais, Ademar de Vasconcellos. Mas a VEP proibiu a remoção para o INCOR


Recebo telefonema de Guiomar Feitosa, esposa do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e mãe da terapeuta ocupacional Larissa Feitosa.

Anos atrás, Guiomar foi alvo de acusações de nepotismo. Solicitou espaço no Blog para se defender. As explicações, satisfatórias, foram integralmente respeitadas e acatadas pelo Blog.

Em vista desse histórico, Guiomar solicita justiça para sua filha.

Na semana passada, Larissa foi alvo de reportagem no Estadão Online, informando ter sido uma das 16 pessoas readmitidas no serviço público do Distrito Federal pelo recém-eleito governador José Roberto Arruda, depois do ato espetaculoso de demitir 14 mil funcionários. A reportagem relacionava o episódio com a defesa apaixonada de Arruda, feita por Gilmar junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em vez de informar sobre o currículo de Larissa, a assessoria de Gilmar enviou uma nota ao jornal esclarecendo que, na época da readmissão, Larissa ainda não era enteada de Gilmar. Por aqui, rebati mostrando que, naquele período, Guiomar e Gilmar se relacionavam e que a defesa recorria a uma mera formalidade como álibi.
O trabalho de Larissa

Guiomar não pretende defender a atividade do marido. Considera-o um juiz rigoroso no cumprimento da lei, que não se curva a nenhuma pressão e, com suas sentenças, contenta 50% das pessoas e desconta outros 50%. Ensaia uma defesa dos argumentos que utilizou em favor de Arruda, mas decide se concentrar na defesa da filha, falar da filha, de seu currículo e seu trabalho. E, da conversa - e de indicações de matérias na Internet - emerge um novo personagem, com vida própria e obra significativa.

Como Gerente de Saúde Prisional do Distrito Federal, Larissa conseguiu transformar o sistema prisional local em referência nacional, trabalhando justamente no presídio da Papuda - que recebeu os condenados pela AP 470.

Alguns prisioneiros da Papuda trabalham em regime semiaberto, diz Guiomar. De dia trabalham e voltam para a Papuda para dormir. A filha trabalha em regime semifechado. Passa o dia na Papuda e somente chega em casa para dormir quase sempre depois das 20 horas.

Algumas vezes, quando não conseguiu apoio para seu trabalho, Larissa pensou em desistir do emprego, mas sempre voltou atrás pela quase impossibilidade de encontrar alguém que se habilitasse àquele trabalho.

Guiomar lembra que se a filha estivesse atrás de cargos públicos, não seria no presídio da Papuda com seu trabalho insano.

Considera-se uma funcionária da saúde, sem ligações partidárias. Mas, para a mãe, admitiu: "Eu trabalho desde 2002 no DF, e Agnelo foi o único governador que efetivamente fez alguma coisa na área da saúde. Só que a saúde é tão caótica, que não aparece o trabalho feito".

No trabalho, Larissa conseguiu vários avanços civilizatórios.

Implementou mamografia para presidiárias, conseguiu a proibição para consultas médicas do presidiário no pátio - nas quais o prisioneiro tinha que se desnudar na frente de todos os colegas. Coordenou mutirões de vacina contra a gripe influenza em seis unidades prisionais.

Todo preso que entra no sistema prisional recebe uma palestra sobre saúde, sobre as doenças mais comuns. Há atualização no cartão de vacinas para adultos, que preenche um questionário informando se é dependente químico e as prioridades do que ele precisa - se médico, se serviço social.

As entradas no sistema prisional acontecem às terças e sextas-feiras, uma média de 90 a 150 prisioneiros recebidos por uma equipe de saúde para as consultas iniciais. Depois, recebem atendimento na Unidade de Saúde.

A visão de Larissa é que o prisioneiro não é apenas ele, mas eu entorno, sua mãe, esposa, filhos, que não podem ficar abandonados com sua prisão. Quando um abusador sexual é libertado, por exemplo, monta-se todo um atendimento fora para acompanhar pais que abusaram de filhas e que estão de volta ao seio da família.

"Eu sei a mudança que foi feita na saúde no Distrito Federal", conta Larissa. "O problema é que as pessoas não tem memória". Quando Agnelo assumiu, o Hospital de Ceilândia estava fechada. A saúde prisional tinha uma equipe apenas para 11 mil prisioneiros.

Seu trabalho foi elogiado pelo juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (http://migre.me/lE5ip), que se considerava seu parceiro.

Coincidência ou não, um dos grandes trabalhos de Gilmar, à frente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) foi um mutirão carcerário, destinado a libertar presos que já tinham cumprido sua pena.
O caso Genoíno

A maior prova do caráter de Larissa foi dada no episódio José Genoíno.
Quando Genoino entrou no presídio, o médico estava de férias. Na sexta-feira foi convocado um médico para os primeiros exames, que constatou que Genoíno estava bem. Na quarta-feira houve alteração no exame. Genoíno piorou sensivelmente e o médico recomendou que fosse encaminhado para o Incor.

Mesmo informado pelo médico de que Genoíno apresentava agravamento no quadro, e da confiança que dizia depositar em Larissa, o juiz da VEP, Ademar de Vasconcelos, apareceu na Papuda e proibiu a remoção.

No dia seguinte, Larissa sugeriu para o médico repetir o exame. A conclusão foi taxativa: tem que ser removido para o Incor, não tem escolha.

Larissa resolveu agir por conta própria. Ligou para o Secretário da Saúde, que entrou em contato com a direção do Incor. O Coordenador do Sistema Presidiário veio falar com ela. Sua posição não mudou: não se trata de opção, Genoíno vai para o Incor.

Decidiu não informar o juiz da decisão, para não colocar a vida de Genoíno em risco. Do lado de fora, a imprensa vigiava cada passo. Larissa foi na frente para preparar a entrada no Incor. E o Diretor do presídio e o médico seguiram com Genoíno em um carro descaracterizado, a salvo da imprensa. Pelos resultados dos exames, o Incor não descartou a possibilidade de infarto.

Do hospital, ligou para a mãe. "Mamãe, estou aqui com o Genoíno, tive que tirar porque senão ele poderia ter uma coisa dentro do presídio, e acho que o Joaquim (Barbosa) virá com tudo para cima de mim. Serei responsabilizada, mas não tinha alternativa".


Houve uma confusão na blogosfera, com os blogs informando de um laudo atestando a gravidade da doença de Genoíno, supostamente assinado por ela.

Larissa era Gerente de Saúde Prisional, terapeuta ocupacional, nunca se declarou médica nem assinou laudo algum. Mas sofreu uma forte investida da categoria dos médicos.

Jamais se manifestou publicamente, aguentando tudo calada.

Em casa, desabafava com a mãe, inclusive como testemunha dos abusos cometidos contra os prisioneiros da AP 470.

Quando as promotoras do Distrito Federal e o juiz da VEP falaram dos supostos privilégios concedidos a José Dirceu e a Delúbio ficou indignada. "Mamãe, isso é falso. Eles não têm privilégio algum".
As implicações do caso

O depoimento de Larissa levanta uma questão grave.
Há que se apurar as responsabilidades.

A do juiz Ademar Vasconcellos é evidente. Foi pessoalmente informado sobre a gravidade do quadro do Genoíno. E desconsiderou a informação e proibiu a remoção de Genoíno para o hospital.

Em relação às juntas médicas que atestavam a suposta boa saúde de Genoíno, se as condições do paciente estavam sujeitas a alterações – conforme atestado pelo laudo médico da Papuda – como pode um laudo médico basear-se exclusivamente em laudos obtidos em condições ideais de repouso, se o laudo serviria para mantê-lo justamente onde sua saúde piorava?

Não se sabe ainda até que ponto essas informações chegaram ou não a Joaquim Barbosa.

Mas não dá para varrer para baixo do tapete esses episódios. Houve uma ação deliberada que submeteu Genoíno a risco de morte e só não se consumou devido ação abnegada de funcionários públicos exemplares.

Esse trabalho macabro só foi interrompido quando o Ministério Público Federal entrou no caso e, através da Procuradora Geral em exercício, Ela Wiecko, colocou bom senso no episódio e interrompeu o massacre.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Brasil vence o revezamento 4x100m medley e fecha Mundial de Natação histórico na liderança

07/12/2014 15h44 - Atualizado em 07/12/2014 16h55

Por Guilherme Costa, Direto de Doha, no Catar

Antes da disputa do revezamento 4x100m medley do Mundial de Natação em piscina curta, em Doha, Cesar Cielo havia dito que o Brasil brigaria para levar o bronze. Mal sabia que ele mesmo apagaria sua previsão. Com uma atuação antológica, ele caiu na água na quarta posição, atrás de Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, e conseguiu levar o Brasil à medalha de ouro. Cielo mergulhou 0s85 atrás de Ryan Lochte, que fechava a prova para o time americano. Nos metros finais, após deixar para trás o francês Clement Mignon e o britânico Benjamin Proud, o brasileiro superou também o astro americano para coroar uma participação memorável da natação brasileira: o sétimo ouro, a décima medalha do país, líder geral do quadro de medalhas da competição no Catar.

- Não vou dizer que a gente esperava ganhar a competição. Isso é inédito para o Brasil, é uma surpresa muito grande. O (Felipe) França, com cinco medalhas de ouro, deve ser uma das maiores vitórias de um brasileiro. Estou muito contente com os meus 100m livre. Posso comparar com o Mundial de Barcelona, com as Olimpíadas de Pequim. Nadar com eles é uma alegria a mais. Temos um grande time - disse Cielo ao SporTV após o revezamento.

Guilherme Guido, Felipe Franca, Marcos Macedo, Cesar Cielo: o Brasil no topo em Doha (Foto: Satiro Sodre / SSPress)

Para o maior nadador brasileiro de todos os tempos, a conquista em grupo teve sabor especial:

- O pessoal fez um trabalho excepcional. De todas as medalhas que já ganhei, dividir com os amigos é muito bacana. A gente trabalha muito para chegar aqui. Foi um efeito bola de neve. Entrou Etiene, o França e o revezamento agora. Foi superbacana. Espero que a gente continue nesta pegada. 

Com sete ouros, uma prata e dois bronzes, o Brasil pulou para a ponta do quadro de medalhas no último dia de provas em Doha, com dez no total. A Hungria ficou em segundo, com seis ouros, três pratas e dois bronzes (11 no total); e a Holanda acabou em terceiro, com cinco ouros, uma prata e seis bronzes (12 no total) - o número de ouros é o critério predominante na classificação.

Cielo é campeão mundial dos 100m livre

Cesar conquista a medalha de ouro no Mundial em piscina curta de Doha, vencendo o francês Florent Manaudou que havia sido ouro nos 50m livre

Por Guilherme Costa, Direto de Doha, no Catar

"Eu ganhei!" Cesar Cielo olhava para o placar impressionado. Mesmo para ele, tão acostumado com o alto do pódio, o título dos 100m livre do Mundial de piscina curta é motivo de êxtase. Afinal, dois dias depois de se decepcionar com o bronze nos 50m livre, o campeão olímpico e mundial fez uma grande prova neste domingo, em Doha, e ultrapassou Florent Manaudou nos últimos metros. O francês, campeão dos 50m livre, tomou o troco e ficou com a prata (45s81) - o bronze foi para o russo Danila Izotov (46s09). O ouro desta vez foi de Cesar Cielo, com o tempo de 45s75. Foi o segundo título mundial do brasileiro nessa prova - venceu em Dubai 2010. Um resultado que fez Cielo se emocionar e chorar durante a cerimônia de premiação. Ele ainda subiria no alto do pódio mais uma vez neste domingo, no revezamento 4x100m medley, e celebraria os títulos de Etiene Medeiros (50m costas) e Felipe França (50m peito).

Cielo festeja bi mundial dos 100m livre em piscina curta (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

- Eu não esqueci (os 50m livre), eu aprendi com isso. Um dia você ganha, e outro você perde. O importante é fazer o melhor o tempo inteiro. Minha decepção nos 50m foi isso. Eu não ia ter vencido, não teria batido o recorde mundial (como Manaudou fez), mas acredito que tinha uma prova melhor dentro de mim. Desta vez, imaginei que ele travaria no final, estava muito rápido para aguentar até o fim. O final foi uma briga de cachorro. Acho que eu queria um pouquinho mais do que ele - disse Cielo.


Apesar de ser domingo, tradicional dia de folga no Brasil, o Complexo Aquático não estava cheio. No Catar, o fim de semana é composto pela sexta-feira, dia sagrado para os árabes, e pelo sábado. O domingo é um dia útil no país. Apesar disso, duas bandeiras do Brasil foram vistas nas arquibancadas, uma na parte central, outra atrás da piscina. Alguns atletas que não nadam neste domingo e os técnicos incentivaram os brasileiros na parte frontal da arquibancada. Mas a torcida maior era francesa, e Manaudou foi o mais aplaudido ao ser anunciado. 

Cesar Cielo se emociona e chora ao receber o ouro dos 100m livre (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

O início de prova foi todo do francês, que passou a primeira metade 20 centésimos à frente. No fim, porém, o brasileiro forçou o ritmo e alcançou Manaudou, batendo apenas seis centésimos antes

- Ganhei dele na última virada, eu vi que ele travou. Aí eu fui para cima. Doeu bastante, mas foi muito bom - disse.

Cesar Cielo já havia vencido os 100m livre outras duas vezes, uma em piscina longa (2009) e outra em curta (2010). No pódio, o choro contido, não com tantas lágrimas como em seu primeiro grande título, o ouro olímpico de 2008, mas com a mesma cara de incredulidade no que tinha feito.

O Brasil ainda teve um segundo nadador na prova. João de Lucca forçou o ritmo na primeira metade da prova, chegando a figurar na terceira posição, atrás apenas de Cielo e Manaudou. No entanto, o nadador não conseguiu manter a velocidade e acabou na sétima posição, com o tempo de 47s05.

- Eu travei demais. Tentei passar forte junto com os caras que são velocistas, mas o ritmo deles é diferente do meu. Nos últimos 25m eu estava no bagaço - disse João.

Etiene Medeiros bate recorde mundial e leva 1ª medalha feminina da história

Depois de subir ao pódio com os revezamentos mistos, pernambucana vence 50m costas e conquista a primeira medalha 100% das mulheres brasileiras em mundiais

Por Guilherme Costa, Direto de Doha, no Catar

A trigésima nona medalha do Brasil na história dos Campeonatos Mundiais em piscina curta ficará marcada para sempre. Etiene Medeiros venceu a prova dos 50m costas da competição disputada em Doha, no Catar, com direito a recorde mundial (25s67) e conquistou a primeira medalha em provas femininas da história do país. A própria Etiene e Larissa Martins já haviam ido ao pódio neste Mundial, mas em provas de revezamentos mistos, que contaram com a participação de dois homens e duas mulheres. O recorde anterior da prova (25s70), de 2009, pertencia à croata Sanja Jovanovic.

Etiene Medeiros morde a inédita medalha dourada após subir no alto do pódio e ouvir hino (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

O resultado é ainda mais espetacular pois, para chegar ao pódio, Etiene bateu a húngara Katinka Hosszú, dona de seis medalhas em Doha. Katinka ficou com o bronze (25s96). Entre elas ficou Emily Seehbolm, da Austrália, que completou a prova em 25s83.

Muito aplaudida no pódio, Etiene exibiu um sorriso largo ao receber a medalha de ouro e mostrou serenidade ao ouvir o Hino Brasileiro. 

Etiene Medeiros, Mundial de Natação Doha (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

- Não sei nem o que falar. É muito esforço para estar aqui. Eu estava muito nervosa. As pessoas criam expectativa, e você tem que aprender a lidar com a pressão. Acho que tenho muito a agradecer a todo mundo. Minha família está toda aqui na arquibancada - vibrou a brasileira de 23 anos, em entrevista ao SporTV após a prova.

Até então, o melhor resultado das mulheres do país em Mundiais de piscina curta havia sido em 2004, quando Flavia Delaroli nos 50m livre e o time do revezamento 4x100m livre ficaram na quarta posição. Em Mundiais de longa, a mesma Etiene tem o principal resultado, o quarto lugar no 50m costas em Barcelona, ano passado. 

Felipe França é campeão mundial dos 50m peito

Depois de três títulos na quinta-feira, brasileiro volta ao topo do pódio em Doha

Por Guilherme Costa, Direto de Doha no Catar

Os punhos erguidos e a pose mostrando os músculos viraram rotina em Doha. Pela quarta vez, Felipe França pôde comemorar um título no Mundial de piscina curta. Depois de três ouros na quinta-feira, ele venceu os 50m peito neste domingo, com o tempo de 25s63, estabelecendo novo recorde do campeonato e sul-americano. O nadador chegou 0s24 à frente dos dois atletas que bateram juntos em segundo, o britânico Adam Peaty e o sul-africano Cameron Van der Burgh. Felipe vibrou muito e celebrou o bicampeonato da prova - ele venceu também em 2010, em Dubai - e voltaria ao topo do pódio pouco depois com o título do revezamento 4x100m medley. 

- Essa competição foi exemplar para o meu retorno (depois das Olimpíadas de Londres). Creio que tem mais por vir. Vamos lutar para que em Kazan (no Mundial em piscina longa) seja mais um degrau para subir rumo às Olimpíadas - disse Felipe.

Felipe França é bi mundial dos 50m peito em piscina curta (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

O brasileiro não foi o mais rápido ao sair do bloco. O tempo de reação dele à campainha de largada foi de 0s65, cinco centésimos mais lento que seu principal rival na prova, o britânico Adam Peaty. Mas, assim que os dois saíram da parte submersa e começaram a nadar, logo se viu a vantagem do brasileiro, que virou os 25 metros na frente. Na volta, Felipe manteve o ritmo para conquistar seu quarto título em Doha.

Pouco antes de Felipe entrar na água, o Brasil havia ganho dois ouros, com Cesar Cielo nos 100m livre e com Etiene Medeiros nos 50m costas.

Além dos cinco ouros conquistados em Doha, Felipe França tem outras três medalhas em Mundiais de piscina curta - ouro nos 50m peito e bronze nos 100m peito e revezamento 4x100m medley em 2010. Nas provas em piscina longa, Felipe tem o título dos 50m peito em 2011, e a prata na mesma prova em 2009.

Felipe França agradece aos céus por mais um título mundial (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Felipe França é campeão mundial de piscina curta dos 100m peito, em Doha

Por Guilherme CostaDireto de Doha, Catar


Felipe França mostrou muito fôlego nesta quinta-feira, em Doha, durante o segundo dia de finais do Campeonato Mundial em piscina curta. Uma hora depois de fazer parte do revezamento 4x50m medley que conquistou a medalha de ouro, ele entrou em ação nos 100m peito e garantiu o título mundial da prova como o tempo de 56s29, quebrando o recorde do campeonato - pouco depois, ele ainda conquistou seu terceiro ouro no revezamento 4x50m medley misto. A medalha de prata ficou com o britânico Adam Peaty, com o tempo de 56s35, e o bronze com o francês Giacomo Perez Dortona, com 57s78.

Felipe França vibra com a conquista da medalha de ouro nos 100m peito (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

O brasileiro começou a prova forte, e passou os 25 primeiros metros à frente. Na metade da disputa, ele bateu na parede na primeira posição empatado com o campeão olímpico, o sul-africano Cameron Van der Burgh. A partir daí, Felipe disparou na frente e, com o inventivo dos brasileiros presentes no complexo aquático, voou para o título mundial, batendo em primeiro lugar com 0s14 de vantagem. 

Felipe sempre se destacou pelas vitórias nas provas de 50 metros, uma distância que não é disputada nas Olimpíadas. Com o resultado obtido nesta quinta-feira nos 100m, ele diz estar preparado para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro:

- Estou muito feliz, pois os 100 metros é uma prova olímpica e é para isso que eu treino, para subir ao pódio em 2016- disse o atleta, que esteve nos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, sem atingir a fase final. 

Depois de conferir o tempo no placar, França subiu na raia e comemorou muito a conquista. Ao deixar a piscina, o campeão mundial recebeu os elogios do presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Coaracy Nunes afirmou que o brasileiro é medalha certa nas Olimpíadas do Rio, em 2016. 

Brasileiro sobe na raia para festejar sua segunda medalha de ouro no dia (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

Esta é a quinta medalha de Felipe França na história do torneio. Em 2010, na competição realizada em Dubai, o atleta foi campeão da prova dos 50m peito, além de ter sido bronze nos 100m peito e no revezamento 4x100m medley. Também nesta quinta, ele fez parte do time que subiu ao pódio no 4x50m medley masculino e do quarteto campeão do 4x50m medley misto.

Brasil dá show, é ouro no 4x50m medley e bate recorde mundial

Quarteto brasileiro formado por Guilherme Guido, Felipe França, Nicholas dos Santos e Cesar Cielo conquista o título mundial em Doha, e faz a melhor marca da história

Por Guilherme CostaDireto de Doha, no Catar


O campeão olímpico Cesar Cielo havia falado que o revezamento 4x50m medley do Brasil era um "Dream Team". E a prova veio na tarde desta quinta-feira, em que Guilherme Guido (costas), Felipe França (peito), Nicholas Santos (borboleta) e Cesar Cielo (livre) garantiram a medalha de ouro no Campeonato Mundial em piscina curta, que está sendo realizado em Doha, no Catar. De quebra, o time bateu o recorde mundial com 1m30s51, melhorando a marca feita pelos russos nas eliminatórias (1m32s78). O Brasil ainda conquistou mais dois ouros nesta quinta: um com Felipe França nos 100m peito e outro com o revezamento misto do 4x50m medley, formado por Etiene Medeiros, Felipe França, Nicholas Santos e Larissa Oliveira.

- O mais bacana foi que estávamos brincando antes que esse era o revezamento paulista do Chico Piscina. Nós nos conhecemos há muito tempo. Foi muito legal nadar com eles. Pegar essa medalha vai deixar essa geração para a história com esse recorde. Se fosse para apontar algo diferencial para o nosso revezamento foi a parcial do Felipe França, foi algo anormal. Ele é um monstro - disse Cesar Cielo.

- Foi muito bacana nadar esse revezamento. Nós nos conhecemos desde os sete anos. Chegar a esse nível e bater recorde é muito gratificante - completou Guilherme Guido.

Cesar Cielo comemora a medalha de ouro no revezamento (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

O Brasil caiu na água favorito ao ouro. Na equipe, estavam o número 1 do ranking mundial dos 50m peito (Felipe França), o atual campeão mundial dos 50m borboleta em piscina curta (Nicholas Santos), o tricampeão mundial dos 50m livre em piscina longa (Cesar Cielo) e o dono do quarto tempo da temporada nos 50m costas, Guilherme Guido.

Brasil comemora a conquista do ouro no alto do pódio (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

Guido abriu a prova nadando muito forte e entregou para Felipe França em quinto lugar. Aí, Felipe França fez toda a diferença no nado peito e, com uma parcial espetacular, colocou o Brasil em primeiro lugar. Nicholas Santos manteve o país na ponta, e a linha do recorde mundial já estava sendo superada em quase dois segundos. Quando Cielo caiu na água, a vitória estava praticamente certa. A prata ficou com a França (1m31s25), e o bronze, com os americanos (1m31s83).


É a primeira vez que essa prova é realizada em um Campeonato Mundial. Existe um lobby para que a disputa entre no programa dos Mundiais em piscina longa (50m) em 2017, mas ainda não há conversas para que o 4x50m medley passe a fazer parte do programa olímpico. 

A medalha do revezamento 4x50m medley do Brasil é a 32ª do país na história dos Mundiais em piscina curta. Com o resultado, o Brasil chegou a 13 ouros, além de sete pratas e 12 bronzes. O maior vencedor do Brasil é Gustavo Borges, com dez pódios. Nenhum dos quatro do 4x50m medley é "marinheiro de primeira viagem" no pódio. Cielo e Nicholas chegaram à quinta medalha na carreira em mundiais de curta, Felipe atingiu o quarto pódio, e Guido o terceiro.

O Campeonato Mundial em piscina curta vai até domingo, em Doha, no Catar. Diariamente, as eliminatórias ocorrem às 4h30 (de Brasília) e as finais às 13h, com cobertura em tempo real do GloboEsporte.com e transmissão ao vivo do SporTV. Os assinantes do Canal Campeão ainda podem acompanhar tudo pelo SporTV Play.

Brasil é campeão mundial no revezamento 4x50 medley misto

Por Guilherme Costa, direto de Doha, Catar

Haja fôlego! Felipe França provou que está no auge de sua carreira nesta quinta-feira, no segundo dia do Mundial de piscina curta de Doha, no Catar. Depois de conquistar dois ouros em menos de uma hora, no revezamento 4x50m medley e nos 100m peito, o nadador voltou para a piscina e encerrou o dia dourado com mais um título. Ao lado de Etiene Medeiros, Nicholas Santos e Larissa Martins, ele terminou em primeiro lugar na final do 4x50m medley misto (1m37s26). A Grã-Bretanha ficou com a prata (1m37s46), e a Itália, com o bronze (1m37s90).

Etiene, Felipe, Nicholas e Larissa com o ouro do 4x50m medley misto (Foto: Satiro Sodré/SSPRESS)

Etiene Medeiros e Larissa Martins se tornaram, com a conquista do revezamento misto, as primeiras mulheres brasileiras a conquistarem uma medalha em Campeonatos Mundiais de natação.

O Brasil começou a prova com uma mulher, Etiene Medeiros, que nadou os 50m costas em 25s83, uma marca muito boa para ela, mas inferior aos demais competidores, todos homens. Por isso, o Brasil passou em oitavo lugar na primeira parte da prova.

Porém, a estratégia do Brasil foi muito bem feita, colocando dois atletas homens no "miolo" da prova. Primeiro, Felipe França no nado peito, depois Nicholas Santos, no borboleta. Com isso, o país assumiu a ponta e coube a Larissa Martins fechar a prova. A brasileira conseguiu se manter à frente das demais adversárias e garantiu o terceiro ouro do dia para o Brasil. 

O terceiro e último ouro do dia de Felipe França veio de forma surpreendente. A equipe brasileira, formada por ele, Nicholas Santos, Etiene Medeiros e Larissa Martins, bateu todos os rivais e venceu o revezamento 4x50m misto. O título não era esperado nem pelo próprio Felipe França:

-Talvez uma prata, um bronze, mas esse ouro saiu de forma surpreendente. Foi surpresa para os técnicos, para nós. Ia ser muito difícil, e foi sensacional - disse.


A competição que não funciona

Maria Silvia Monteiro Costa

EMPRESA PODEROSA - Por experiência pessoal, por observação e pelo número de publicações, sites e gurus de "auto-ajuda corporativa" eu afirmo, sem medo de errar, que o modelo de gestão que prima pelo estimulo da competição no ambiente interno já não vale mais para os dias atuais e posso suportar esta minha tese pelos sintomas colaterais que a competição interna desenvolve nos colaboradores de todos os níveis. 

Grande parte das relações interpessoais nas empresas são baseadas no medo. O medo é a origem de todos os males mas nas empresas ele se manifesta nas encenações nas reuniões, agendas pessoais, divisão por feudos, gestão por conflitos e na manipulação de todo o tipo. Isto, muitas vezes, tem inicio no board e se reverbera nos níveis mais baixos.

Onde a competição é um valor corporativo não há clareza das regras de conduta e convivência. E é esta a receita de sucesso para a criação de um cenário que opera pelo medo.

Do medo também nasce a necessidade de se manter alerta, vigilante e na posição de defesa porque também se cria um sentimento muito forte de posse: "Tenho que defender o meu cargo, meu salário, meu bônus, o meu, o meu, o meu... e para isto, tenho que me aliar com este ou aquele e ficar atento aos "sinais"."

Quem pode viver bem assim? Quem pode produzir assim? Quem pode ser criativo assim?

Não gostaria de que este artigo soasse como um discurso tipo "Poliana" porque o meu entendimento sobre as empresas é bem claro: elas estão ai para promover o desenvolvimento, gerar riquezas, ter lucros etc. Mas já presenciei colegas investindo um tempo enorme do seu dia de trabalho formulando enredos incríveis sobre outros colegas e sofrendo. Sempre me perguntei se todo aquele tempo não seria melhor utilizado se fosse aplicado no trabalho em si. Ao invés de se preocupar tanto com o cenário político, se preocupasse em trazer para a empresa a melhor solução para o desafio que estava sendo apresentado naquele momento. Perdi horas de "terapia" ouvindo os colegas. Tive uma experiência em que minha gestora tinha medo de perder o emprego e, para tranquilizá-la, cheguei ao limite de dizer que ela não se preocupasse comigo - pelo menos !!! - porque eu não desejava a posição dela. Quem pode trabalhar bem assim?

As empresas sabedoras disto tentam soluções no nível do problema e operam por meio de campanhas de incentivo e campanhas de comunicação interna "cosméticas" que reforçam ainda mais o padrão.

Quando o líder e o colaborador tem a sua agenda diária pautada por estas preocupações não existe terreno fértil para a criatividade. Quando tenho a minha mente voltada para uma agenda positiva, consigo ser criativa na solução de problemas, na formulação de propostas comerciais, na elaboração de produtos e serviços vencedores e consigo liderar e inspirar todos aqueles que estão ao meu redor para agirem nesta direção. Que, alíás, é a direção da maior produtividade e rentabilidade.

(* MOMENTO CURIOSIDADE: existem dois livros "The Rise of Creative Class", "The Flight of the Creative Class" que provam por A+B que o índice de desenvolvimento criativo de um país se mede pelo avanço em tecnologia, talento e tolerância. Nos países avançados, as pessoas criativas são a espinha dorsal da economia. Regiões em que há agrupamento de pessoas criativas apresentam maior crescimento.)

A solução deste cenário pede esforços de várias frentes mas para nós, Profissionais de Comunicação Corporativa cabe chamar a atenção do board das empresas sobre alguns aspectos:
_ alinhamento da imagem externa com a interna pela consistência de discurso e prática;
_ aplicar os valores da empresa;
_ promover a cultura organizacional e colocá-la como prioridade da gestão;
_ dar vida as obrigações de um Líder;
_ valorizar e priorizar o relacionamento de ganha-ganha com os stakeholders, 

E, por último e por ser a razão de existir deste blog, promover e debater sobre a importância da inserção de um Propósito nas Empresas. As empresas precisam encontrar uma razão mais nobre para a sua existência, crescer em relevância para as pessoas e fazer diferença para aqueles que nelas trabalham. É do envolvimento emocional que o colaborador tem com a sua empresa que trará o ENGAJAMENTO tão desejado. Dê motivos ao colaborador para ele gostar e lutar pela empresa. E, principalmente, com o sentimento de conexão estabelecido, ele se tornará um excelente defensor da sua marca nas redes sociais! Poderia continuar o artigo fazendo uma lista imensa de benefícios para ambos os lados.

Sou contratada para ajudar as empresas a perceberem que podem e devem investir na construção de relacionamentos sustentáveis com todos os seus stakeholders e ainda ganhar muito dinheiro com isto. Invisto muito tempo tentando mostrar e provar que estas duas coisas - bons relacionamentos e ganhar dinheiro - podem andar de mãos dadas mas isto depende de condições básicas que só são possíveis em ambientes colaborativos e não competitivos.

Fonte do Momento Curiosidade: Marketing 3.0 Philp Kotler, Hermawan Kartajaya, Iwan Setiawan

Maria Silvia Monteiro Costa é Executiva de Marketing e Comunicação Corporativa

Lula explica por que “eles” odeiam o Mercosul

No Equador, Lula dá uma aula de Geopolítica: juntos somos 600 milhões de habitantes com um PIB de US$ 5,5 trilhões.

Lula: nossos países estão distribuindo renda, conhecimento e poder (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Quanto mais integração melhor se enfrenta a crise, disse ele.

Lula propõe uma nova ordem política global, a partir da união da América Latina e do Caribe.

Um conjunto econômico que pode se fortalecer se o Brasil superar ridículos entraves administrativos que dificultam a passagem pelo “Eixo Interoceânico Sul”, que liga o Peru e a Amazônia.

E se o Brasil e a Bolívia chegarem, logo, a um acordo sobre o transito de caminhões de outros países, para liberar, de vez, a passagem pelo “Corredor Bi-Oceanico”, que liga os portos de Arica no Chile a Santos.

É a aula a que os tucanos faltam.

Porque o projeto deles é tirar os sapatos num Pacto do Pacífico, de forma a se integrar, como na ALCA, à hegemonia (decadente) dos Estados Unidos.

(Já em 2014 a Economia da China será maior que a dos Estados Unidos. E que a China e a Nicarágua vão construir um canal mais largo e mais fundo para competir com o do Panamá.)

(E que a Presidenta Dilma e o presidente Xi Jinping assinaram um compromisso para construir, com o Peru, uma estrada de ferro que sai de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, para chegar ao Peru … Será o ramal Oeste da Norte-Sul.)

Daí, o papel estratégico desses dois corredores trans-continentais que o Lula mencionou.

Eis a Aula Magna (que dá coceira no Príncipe da Privataria, em Paris):

LULA DEFENDE MAIS INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA LATINA CONTRA A CRISE ECONÔMICA E O CONSERVADORISMO

“Lula, bem-vindo, o Equador está contigo”, assim foi recebido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (3), em Guaiaquil, no Equador, onde defendeu a aceleração da integração latino-americana contra a crise econômica.

O ex-presidente participou nesta quarta-feira (3), do Seminário Internacional “Integração e Convergência na América do Sul”, da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), onde aconteceu a conferência “A Unidade e a Integração Latino-Americana e Caribenha: Passado, Presente e Futuro”. O seminário antecede a inauguração da sede da Unasul, em Quito, na sexta-feira (5), com a presença dos presidentes da região, inclusive a presidenta Dilma Rousseff.

Em seu discurso, Lula parabenizou a vitória de Tabaré Vasquez no Uruguai, considerada pelo ex-presidente brasileiro parte de um “segundo ciclo” de integração e governos populares na América do Sul, junto com as recentes eleições de Evo Morales, na Bolívia, Michelle Bachelet, no Chile, e Dilma Rousseff, no Brasil. Para o ex-presidente, o povo renovou sua confiança nos governos de transformação social, mesmo diante de ataques do conservadorismo feitos “a toda soberania de uma região do planeta que está construindo um vigoroso projeto alternativo ao neoliberalismo.”

Ao comentar os avanços da integração no século 21, Lula apontou que o já realizado em infraestrutura e aumento do comércio na América Latina, que saltou de 50 bilhões de dólares para 189 bilhões de dólares em 10 anos, foi muito, mas ainda não estão à altura do nosso potencial ou necessidades. “A crise econômica mundial teve um efeito inibidor sobre as iniciativas de integração. Como se tivéssemos que esperar o fim da crise para voltar a tratar da integração. Estou convencido de que é justamente o contrário: quanto mais nos integrarmos, melhores serão as nossas condições para enfrentar e superar os efeitos da crise.”

Lula citou como exemplo, problemas em dois projetos de infraestrutura que ligam o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, um que liga o Brasil ao Chile, outro ao Peru, que sofrem com problemas burocráticos nas fronteiras para facilitar o fluxo de mercadorias na região. E também a resistência do Brasil a importar bananas produzidas no Equador.

O evento, feito em parceira com o Instituto Lula e o Ministério das Relações Exteriores do Equador, debateu a integração da América Latina, com a presença do secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, da president da Cepal, Alicia Bárcena, o ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, o socólogo brasileiro Emir Sader, entre outras autoridades, representantes de institutições multilaterais, como o Mercosul, a Aliança do Pacífico, a ALBA, parlamentares, embaixadores e pesquisadores.

Leia o discurso escrito de Lula (sem os improvises)

É um privilégio participar deste encontro com representantes de tantos países irmãos, no momento em que se inaugura a sede permanente da UNASUL. Este é um passo extraordinário para concretizar o sonho da integração de nossos povos e países.

Quero felicitar o companheiro Rafael Correa, uma das lideranças mais expressivas do nosso continente e um dos maiores incentivadores desse projeto. Quito tornou-se de fato a Capital da Integração. Aquele belo edifício na Metade do Mundo será, a partir de amanhã, a casa de todos nós.

Saúdo, fraternalmente, o companheiro Ernesto Samper, novo secretário-geral da UNASUL, que vem contribuir com sua experiência política e reconhecida capacidade de diálogo, qualidades essenciais para conduzir o processo de integração a uma nova etapa, possível e necessária.

Antes de entrar no tema desta conferência, quero prestar homenagem a dois companheiros que não estão mais entre nós, mas sem os quais não teríamos chegado tão longe: Néstor Kirchner e Hugo Chávez.

Cada qual a sua maneira, eles foram personagens fundamentais neste processo, emprestando sua energia, generosidade e visão de futuro para o fortalecimento do Mercosul, a criação da UNASUL e a constituição da CELAC.

Líderes de origens e países distintos, Kirchner e Chávez demonstraram, acima de tudo, espírito de fraternidade e compromisso com o desenvolvimento e a emancipação dos povos da América Latina e do Caribe, dedicando especial atenção para o combate à pobreza e à desigualdade.

Saúdo também a eleição, no último domingo, do companheiro Tabaré Vázquez, para um segundo mandato como presidente do Uruguai. Em sua primeira presidência, o companheiro Tabaré foi um dos grandes artífices da construção da UNASUL.

Sua eleição foi mais uma importante vitória das forças progressistas de nossa região nestes últimos dois anos. Neste período, os governos transformadores sofreram os mais duros ataques, por parte dos adversários internos, e por parte dos porta-vozes mundiais do conservadorismo político e econômico.

Numa interferência totalmente descabida em assuntos internos, analistas de mercado, agências de risco e até organismos multilaterais tentaram desqualificar políticas econômicas soberanas, que evitaram o desemprego e a recessão em nossos países. A imprensa dos grandes centros financeiros demonizou projetos políticos democraticamente eleitos, valendo-se muitas vezes da manipulação dos fatos, da mentira e do preconceito.

Foi um ataque coordenado e tenaz, mas as populações dos nossos países não se deixaram intimidar. Reafirmaram, nas urnas, a decisão de trilhar um novo caminho de desenvolvimento com inclusão social. Rechaçaram o retrocesso ao neoliberalismo e aos modelos excludentes do passado.

O fato é que desde a reeleição de Rafael Correa, no Equador, e da vitória de Nicolás Maduro, na Venezuela, as forças progressistas inauguraram um segundo ciclo de vitórias eleitorais em nossa região.

O respaldo popular aos projetos de mudança se manifestou no Chile, com Michele Bachelet; em El Salvador, com Salvador Sánchez Cerén, e na Bolívia, com Evo Morales. Na Colômbia, os inimigos do processo de paz foram derrotados pelo presidente Juan Manuel Santos com o apoio qualificado das forças de esquerda no segundo turno. No Brasil, reelegemos a companheira Dilma Rousseff, numa campanha duríssima, que mobilizou fortemente os setores populares e democráticos da sociedade.

Apesar dos reflexos de uma crise global que não foi criada por nós, mas pela especulação desenfreada nos grandes centros econômicos; apesar da dureza da disputa, com a radicalização cada vez mais estridente da direita; apesar de todas as dificuldades, o povo renovou a confiança nos governos de transformação social.

Mas não devemos nos iludir: os ataques do conservadorismo não se dirigem a cada país isoladamente. São ataques à soberania de toda uma região do planeta, que está construindo um vigoroso projeto alternativo ao neoliberalismo, lastreado na democracia, no diálogo e na busca de formas mais justas de desenvolvimento.

Meus amigos e minhas amigas,

Neste último decênio, o processo de integração, que havia sido interrompido pelos governos neoliberais, foi retomado com vigor. Afinal, percebemos que os desafios do desenvolvimento são comuns a nossos povos e países, e por isso não podíamos continuar de costas uns para os outros.

Posso dar o testemunho da ação de resgate do Mercosul, da qual participei diretamente em meu período como presidente da República. Foi uma decisão estratégica que anunciamos no primeiro dia de governo, em janeiro de 2003, e que estava em plena sintonia com os anseios de Argentina, Paraguai e Uruguai.

Além de revalorizar o papel das chancelarias, estabelecemos um mecanismo de consulta permanente entre os chefes de Estado. O contato direto entre os presidentes gerou confiança mútua e aprofundou a compreensão sobre a importância da integração para cada país.

Investimos fortemente na redução das assimetrias entre os membros do bloco, elevando de maneira exponencial os recursos do fundo destinado a este fim, o Focem. Isso resultou em importantes obras de melhoria da infraestrutura produtiva e social, beneficiando, sobretudo, as economias menores. Promovemos também acordos de imigração e previdência social no âmbito do bloco.

Em apenas 10 anos, o comércio entre os países do Mercosul passou de US$ 15 bilhões para US$ 66 bilhões. Com o ingresso da Venezuela, o bloco se fortaleceu e as possibilidades de comércio cresceram ainda mais.

Uma expansão comercial semelhante ocorreu em todos os blocos regionais no continente. Em dez anos, as trocas comerciais entre os países da América Latina e Caribe passaram de US$ 50 bilhões para US$ 189 bilhões. Mais da metade dessas trocas envolve produtos manufaturados, numa lista diversificada de quase 10 mil itens.

Quero destacar a importância, para as pequenas e médias empresas, das oportunidades geradas pelo comércio no interior do bloco. Estas empresas são fundamentais, em qualquer país, para a geração de renda e a democratização do processo econômico.

Os avanços da integração, no entanto, foram além das relações comerciais. Os empresários dos nossos países estão aprendendo a investir nos países vizinhos, e não apenas a vender e comprar. Grandes empreendimentos regionais estão se constituindo em áreas como aviação, telefonia, serviços financeiros, alimentação, cimento e tecnologia da informação, entre outras.

Até 2004, a troca de investimentos entre países da região correspondia a apenas 4% do investimento direto externo na América Latina e Caribe. Hoje, ultrapassou 14% do total, e pode se ampliar muito mais, se fizermos o que tem de ser feito.

Em dezembro de 2004, na reunião de presidentes sul-americanos em Cuzco, demos um grande passo político, com a criação da UNASUL. Constituímos um organismo democrático multilateral, sem nenhum tipo de tutela externa.

É muito significativo, do ponto de vista da nossa evolução histórica, que uma das primeiras iniciativas da UNASUL tenha sido a instalação do Conselho Sul-Americano de Defesa. Em breve, estará funcionando, em Quito, a Escola de Defesa Sul-Americana. Com tais medidas corajosas – impensáveis para muitos da minha geração – demarcamos o território da soberania, do diálogo e da paz em nosso continente.

Sempre que foi convocada, a UNASUL construiu soluções de entendimento para conflitos entre países, e ajudou a superar tensões políticas desestabilizadoras.

Em 2008, realizamos na Bahia a cúpula de chefes de estado da América Latina e do Caribe – a nossa primeira reunião sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá. Ali decidimos criar a CELAC, que seria oficialmente constituída na cúpula da Riviera Maya, no México, em 2010.

A constituição da CELAC ampliou ainda mais o espaço de cooperação democrática sobre o qual semeamos o projeto de integração da América Latina e do Caribe.

Somos hoje 33 países com a vontade comum de construir um futuro à altura dos nossos sonhos e possibilidades; e de exercer um papel cada vez mais ativo na comunidade global.

Meus amigos, minhas amigas,

Todos os avanços que mencionei são importantes para a evolução histórica do processo de integração. Mas não são suficientes. Poderíamos e deveríamos ter feito muito mais. A verdade é que o avanço da integração não está a altura do nosso potencial e sobretudo das nossas necessidades. A crise econômica mundial teve um efeito inibidor sobre as iniciativas de integração. Como se tivéssemos que esperar o fim da crise para voltar a tratar da integração. Estou convencido de que é justamente o contrário: quanto mais nos integrarmos, melhores serão as nossas condições para enfrentar e superar os efeitos da crise. A integração não é um problema; ela é parte da solução. Longe de mantê-la congelada, esperando tempos melhores, o que devemos fazer é acelerá-la.

É impressionante constatar, por exemplo, quanto tempo o Brasil viveu de costas para os vizinhos do continente – e creio que o mesmo aconteceu com a maioria dos países da região.

Durante cinco séculos, tivemos mais conexões com as velhas metrópoles e com os Estados Unidos do que entre nós mesmos – na economia, nos transportes, na política e até no âmbito da cultura e do pensamento.

Ficamos apartados uns dos outros até fisicamente. Imaginem vocês que somente no meu governo, já no século XXI, é que foram construídas as primeiras pontes fluviais ligando o Brasil ao Peru e à Bolívia.

Isso tornou possível a conclusão do Eixo Interoceânico Sul, ligando a costa peruana à Amazônia Brasileira. E também concluímos o Corredor Bioceânico, do porto de Arica, no Chile, ao porto de Santos, no Brasil, passando por território boliviano.

Mas chega a ser inexplicável que, depois de executar duas obras de tamanha importância, não conseguimos ainda viabilizar a circulação de mercadorias por essas estradas. No primeiro caso, falta uma decisão meramente administrativa do Brasil. No segundo, falta um acordo com a Bolívia para o trânsito de caminhões de outros países.

A experiência me ensinou que não basta firmar acordos e anunciar decisões em cúpulas presidenciais. Não raro, depois que os presidentes retornam aos seus países, a foto oficial é o único resultado palpável de uma cumbre.

Para que tais decisões se transformem em fatos, elas não podem cair na rotina dos legislativos, a quem compete aprová-las, nem na burocracia dos governos, a quem compete implementá-las.

Por isso é tão importante repensar o funcionamento dos nossos parlamentos nacionais no que diz respeito aos acordos assinados pelos chefes de estado.

Cabe a eles examinar as questões concretas da integração, desde os direitos laborais até as relações comercias. Desde o respeito aos direitos humanos até o compartilhamento de tecnologias.

Da mesma forma, os parlamentos devem criar mecanismos especiais, mais ágeis, para a aprovação dos nossos acordos.

Meus amigos, minhas amigas,

Nossa região concentra cerca de 30% do potencial hidrelétrico do planeta. Esta fonte renovável corresponde a 52% da nossa capacidade instalada de geração de eletricidade, que hoje é da ordem de 325 Gigawats. Mas ainda não aproveitamos nem 40% desse potencial, construindo usinas e linhas de transmissão para o aproveitamento integral e solidário deste recurso.

Da mesma forma precisamos integrar a rede de gasodutos e oleodutos, para aproveitar o potencial de combustíveis fósseis, e também estimular e coordenar a geração a partir de outras fontes de energias renováveis: eólica, solar, de biomassa, marinha e geotérmica.

Além disso, para avançar no ritmo necessário à expansão econômica, teremos de ampliar e conectar a rede de comunicação por banda larga entre nossos países .

É muito importante definir novas fontes de financiamento para projetos estratégicos, mesmo aqueles circunscritos ao território de um só país e que têm importância para a região. Neste sentido se impõe o pleno funcionamento do Banco do Sul. Mas também é preciso valorizar mais as fontes já existentes, nacionais e multilaterais, além de aproveitar as oportunidades abertas pelo Novo Banco de Desenvolvimento instituído pelos BRICS.

Cabe aos países mais desenvolvidos, com as maiores economias da região adotarem políticas para facilitar o acesso dos países mais pobres aos seus mercados consumidores.

E me permitam enfatizar outro grande desafio: integrar as cadeias produtivas. Há quem duvide da nossa capacidade para tanto. Mas, se hoje fabricamos automóveis com partes feitas em diferentes países do Mercosul, por que não seríamos capazes de fazer o mesmo com outras cadeias industriais de valor, compartilhadas por diversas nações, contribuindo para superar as assimetrias entre eles?

Esse esforço diz respeito aos governos e suas agências, e também aos empresários, ao setor financeiro e aos sindicatos de trabalhadores. Neste sentido, considero importantíssima a Plataforma Laboral das Américas, que os companheiros sindicalistas de toda a região lançaram em maio, no Chile.

Meus amigos, minhas amigas,

Estes primeiros anos do século XXI marcaram o início de uma nova era para as populações da América Latina e do Caribe. Na maioria dos países, que adotaram políticas ativas de distribuição de renda, geração de empregos e inclusão social, a economia cresceu acima da média mundial.

O desemprego urbano na região, que alcançava 11,1% em 2003, estava reduzido a 6% no terceiro trimestre de 2014. No mesmo período, o salário mínimo teve aumento real de 20% na média dos países latino-americanos.

Estamos tirando nossos países do mapa mundial da fome.

Reduzimos fortemente a pobreza e a desigualdade.

Ampliamos – e muito- o acesso à educação e saúde públicas, ao mesmo tempo em que trabalhamos para melhorar sua qualidade. Enfrentamos o preconceito com corajosas políticas afirmativas. E tudo isso buscando combinar desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade ambiental. Em suma, nossos países, cada um ao seu modo, estão distribuindo renda, conhecimento e poder. Isso significa que as populações estão alcançando um novo patamar de direitos, de bem estar e de participação democrática.

Desse patamar não podemos retroceder.

Meus amigos, minha amigas,

Diferentemente do que ocorria no passado, os países da América Latina estavam melhor preparados para enfrentar a crise financeira global desencadeada em 2008.

A maioria de nossos países rejeitou a receita da recessão e corte de investimentos públicos, que ceifou milhões de empregos e arruinou milhões de famílias ao redor do mundo.

Um estudo da Cepal com países selecionados da América Latina e Caribe aponta que, entre 2009 e 2013, tivemos um crescimento médio de 7,8% na geração de empregos. Considerando apenas os empregos formais, o crescimento foi de 12,5% no período.

Isso mostra o acerto das políticas que adotamos para enfrentar os impactos da crise global – políticas soberanas, decididas sem a ingerência do FMI, cujas imposições infelicitaram toda uma geração de latino-americanos.

Agora estamos em uma nova fase da crise global, marcada pela retração do comércio externo e do fluxo de investimentos a partir dos centros econômicos tradicionais.

Temos feito enorme esforço para superar o papel que nos atribuíram no passado de meros exportadores de produtos primários. O caminho para o futuro passa pelo conhecimento, pela identificação de oportunidades e complementariedades no processo produtivo.

Essa transição é crucial, não apenas para desenvolver a produção e o mercado intrarregional, mas para alcançarmos maior competitividade na disputa pelos mercados externos.

Temos de produzir com mais eficiência, incorporando avanços tecnológicos para agregar valor à nossa produção. Precisamos investir em infraestrutura, para reduzir os custos de logística e energia; e equacionar os mecanismos de financiamento da produção.

Por isso mesmo, nossa capacidade de avançar na integração será determinante para a maneira como nossos países vão enfrentar a nova etapa da crise.

A América Latina e o Caribe estão conquistando um novo lugar no mundo. Estamos deixando de ser uma peça menor nas relações internacionais. E isso contraria interesses estabelecidos, que reagem duramente ao nosso crescimento comercial, econômico e político.

Isoladamente, somos mais frágeis nas disputas políticas e econômicas de ordem global. Juntos, constituímos uma potência, com uma população de 600 milhões de habitantes e um PIB superior a 5,5 trilhões de dólares.

Juntos, e somente juntos, temos a possibilidade real de influenciar na reforma dos organismos multilaterais e de contribuir para uma nova ordem política e econômica global mais justa, equilibrada e democrática.

Meus amigos, minhas amigas,

O verdadeiro sentido da integração manifesta-se concretamente na ampliação dos direitos e das oportunidades de cada cidadão, que não devem se limitar mais ao seu próprio país.

Os exemplos históricos de blocos regionais no mundo mostram que eles se consolidam quando seus habitantes podem trabalhar, estudar, empreender e investir em todos os países.

Tão importante quanto a integração política e econômica é a integração social; a aproximação, o convívio, o intercâmbio, a aliança entre os nossos povos.

Quando o cidadão comum se sentir parte integrante e beneficiário direto desse processo, aí, sim – estaremos forjando uma verdadeira vontade popular pela integração; uma nova cidadania, conscientemente latino-americana.

Para isso é imprescindível fomentar o diálogo e a cooperação entre as nossas universidades, os nossos cientistas, artistas e os mais diversos movimentos sociais.

A nova etapa do processo de integração exige uma visão de longo prazo sobre as questões estruturais do processo de integração. Planejar o futuro com o objetivo de dar um salto de qualidade em nossa região.

Hoje, nosso principal desafio é construir um pensamento estratégico latino-americano e caribenho e, a partir dele, um projeto integrador mais ousado, que aproveite toda essa riqueza histórica, material e cultural.