segunda-feira, 12 de maio de 2014

UMA QUESTÃO DE CRENÇA

Por Alana Regina Sousa de Menezes

Descobri que a vida é uma decisão simples: escolher se você crê ou não crê em Deus. Essa é uma escolha que me parece ser o fundamental se o que se pretende é viver. Eu disse viver. Não passar pelo ciclo da vida, repetindo as mesmas ações comuns - nascer, crescer, amadurecer e morrer - isso qualquer vegetal faz. Disse viver, no sentido de sentir o sangue correr pelas veias, o ar entrar e sair do pulmão, aproveitar, sentir, viver. E isso é uma questão de difícil resolução: você acredita em Deus?

Parece uma pergunta simples que pede uma resposta a que se chega com menos esforço que o merecido: sim, acredito. Mas a indagação me parece um pouco mais densa. Acreditar em Deus vai além de portar a ideia de que ele existe, que mora lá no céu e tarda, mas não falha. Para ser sincera, não conheço ninguém que realmente acredite em Deus. Não creio que é possível acreditar em alguém, sem acreditar em sua palavra. E pouca gente acredita no que diz ser a palavra de Deus. Deus é tão inacreditável que a gente faz questão de manter uma distância, um respeito demasiado, por exemplo, a gente escreve "Deus-com-dê-maiúsculo" porque Deus é próprio, é importante, é alguém acima de nós. A gente nunca iguala deus a gente. "deus-com-dê-minúsculo" não é pecado. É?

De qualquer forma, maior pecado do que escrever deus-com-dê-minúsculo deve ser não amar o próximo como amo a mim, não saber perdoar sinceramente e não alimentar os que têm fome. Eu e muitos dos meus "irmãos" pecamos todos os dias, mas pecamos porque a gente é da geração Gregório de Matos que acha que a gente tá aqui é pra pecar mesmo e deus que perdoe, afinal, deus tá aí é pra perdoar mesmo. No que nos favorece a gente acredita. O perdão de deus, certamente existe. Dar a outra face, perdoar setenta vezes sete vezes ao dia, não julgar... existe? Na palavra. Na palavra que a gente certamente não acredita, porque se acreditasse colocava em prática.

Mais além... vejo que temos medo de acreditar que deus existe. A vontade de cometer o erro, sabendo que se está errando, sabendo que vai machucar o outro, refletir e decidir: vou errar. E o arrependimento, a maior prova de nossa dúvida: vou pedir perdão... vai que deus existe mesmo. E da boca pra fora, a gente perdoa tanto e pede tanto perdão...

Às vezes, tenho pena de deus. Coitado de deus. E escrevo deus assim mesmo com-dê-minúsculo. Tenho certeza que isso é o de menos pra ele hoje em dia. Eu não me incomodaria se alguém escrevesse meu nome com-a-minúsculo, desde que esse alguém me amasse e acreditasse no que eu digo e se sacrificasse por mim. Muita gente escreve meu nome com-a-maiúsculo e me diminui tanto no coração. Se vocês estão incomodados porque eu passei a escrever deus com inicial minúscula, sinto muito, mas pensem que vocês têm feito coisas piores, inclusive, chamado este que vocês respeitam tanto de mentiroso, pois vocês não acreditam em nada que ele fala.

Eu, pelo menos, mesmo escrevendo o nome dele com letra minúscula, converso com ele; e ele me mandou dizer que vocês são muito visão e pouco tato e pediu que vocês compreendessem que ele não consegue se manifestar sem abstração. Pediu também que vocês parem de ensinar às crianças que ele é concreto, porque as crianças ficam querendo vê-lo e ele quer que sejamos mais tato, maissensibilité. Não vai dar pra agradar aos olhos de vocês, infelizmente.

Está dado o recado. E é tudo uma questão de crença.



Alana Regina Sousa de Menezes: Acadêmica do curso de Direito e Mestranda em Literatura, História e Sociedade pela UFMS - Câmpus de Três Lagoas (MS). É graduada em Letras pela Universidade Tiradentes, especialista em Metodologia do Ensino Superior pela FSLF, Poetisa, autora de “Maria Rejeitadinha e Outros Poemas”, contista e dramaturga. E-mail: alanareginasm@hotmail.com

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