terça-feira, 20 de maio de 2014

O xadrez de Lula com o movimento blogs x midia

Por SergioMedeirosR
Jornal GGN

No xadrez de Lula, a mídia não consegue antecipar as próximas movimentações.

A maior parte das pessoas ao fazerem suas análises, esquece uma questão básica, ou seja, é preciso analisar de forma ampla a realidade do mundo onde vivem.

Certo, neste ponto, não falo simplesmente da realidade imediata, mas da visão do conjunto, suas causas e origem.

“Os fatos enquanto fatos não tem autoridade, mas somente em relação aos fatos que lhes deram origem”.

Esquecem nestas análises, que queiram ou não vivemos num mundo capitalista.

Não, não é o fim da história, porque, afinal, o atual sistema econômico, definitivamente não deu certo.

Nem mesmo com as concessões do capital ao sistema de proteção social (por isso cada vez mais atacado e vulnerável – trata-se de concessão e, portanto, passível de retirada e exclusão - isso em nome da viabilidade do sistema capitalista global).

Para a esquerda e para os partidos que professam e professavam a ideologia socialista, neste cenário consolidado pela globalização, tornou-se um exercício de sobrevivência adequar seus ideais... na melhor forma possível.

Quem primeiro intuiu tal modificação conjuntural foi o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, bem como a única vulnerabilidade do sistema, ou seja, a ausência do capitalismo na área social.

Em outros termos, o capital e o deus mercado, somente se preocupavam e se preocupam com o mercado e com o capital, a parte social é um mero mal necessário, e que, necessariamente, só adentra na equação como público consumidor de produtos, nunca como portador de direitos.

Num cenário após Collor de Melo, em que toda a blindagem foi feita, das mais diversas formas e nos mais variados setores, seja via privatização direta, ou via criação de sistemas de controle - agencias reguladoras, via legislativa - novo código civil e leis esparsas.

Basicamente protegendo e regulando a questão privada do mercado, bem como dando forma rígida aos contratos, vide o forte ressurgimento do direito empresarial.

Pergunto novamente, o que restava para a esquerda do partido de Lula (PT) e seu discurso.

No início o pensamento dominante na esquerda era, para que vai servir Lula ser eleito, se não vai poder fazer nada. Apenas vai referendar o discurso da direita conservadora.

Ledo engano, com imensa maestria, Lula direcionou sua politica (...abordo apenas estes pontos, de forma exemplificativa) para dois campos, um no campo capitalista direto, ao viabilizar e democratizar o acesso da população de baixa renda ao sistema (capitalista) vigente, via pronaf no campo e via incentivo a microempresa nas cidades, no outro, cuidou de dar assistência aos extremamente carentes (bolsa família e ampliação de outros benefícios, como o seguro desemprego, programa luz para todos, etc.).

Era o único espaço possível e, notem bem, não tinha cunho ideológico de esquerda (visto que privilegiava e incentivava o capital e a prestação social de cunho assistencialista), mas, derivava fundamentalmente da construção social democrata de cunho marcadamente humanista.

E foi assim, a iniciativa de um trabalhador brasileiro, um sindicalista, um presidente com olhos postos na Europa (e em sua população com toda uma série de direitos e garantias sociais) bem como em suas formas de organização e emancipação do operariado.

E tais mudanças foram, de inicio, aceitas pelo setor conservador, não feriam nenhum dogma da direita conservadora.

Somente passaram a ser questionadas quando o governo Lula, com o sucesso destas primeiras medidas, passou a pautar sua atuação de uma forma mais incisiva junto ao mercado, recusando a ALCA e seu jogo de submissão aos interesses comerciais americanos e transformando o país num entreposto mundial (a opção pelo MERCOSUL, enquanto as iniciativas eram globais, criou a necessária cortina de fumaça, que nublou os olhos do mercado até ser tarde demais e o governo Lula ter consolidado sua forma de agir economicamente).

Certo, Lula, após este período aprofundou a questão social, ou seja, passou a priorizar a maior inserção social do Estado perante a sociedade.

Neste ponto a reação foi imediata, pois, a iniciativa privada de pronto considerou que o que estava em jogo eram recursos que secularmente estavam sob seus domínios e que era absurda tal alteração de destinação.

No campo privado coube a presidente Dilma a parte mais pesada, ou seja, a consolidação do sistema de estado forte, o que somente poderia ser concretizado através da Petrobrás, isto é torna-la de tal forma forte que estaria imune a especulação para se apropriarem dela.

Primeiro a tornou forte no país, inseriu-a junto a sociedade. Fez renascer toda a indústria naval, principalmente RJ, PE e RS, e instalou polos industriais que trouxeram o necessário know-how nesta área, decorrente da construção de navios e plataformas de extração aqui mesmo no Brasil.

A seguir, novamente impor-se-ia a opção pragmática.

A exploração da maior riqueza brasileira, o petróleo do pré-sal, a qual , efetivamente, vai ser feita pela Petrobrás como operadora, mas a parte capitalista – lucro investimento e exploração, como inevitável num mundo capitalista, será dividida entre outros parceiros (Shell-anglo-holandesa, TOTAL-francesa, CNOOC e CNPC-chinesas) todas com fortes meios de dissuasão, caso as concorrentes (Chevron, Exxon British Petroleum) tentassem inviabilizar o negócio.

Em outros termos, a Petrobrás sozinha, com certeza teria quebrado mediante a intervenção destrutiva das demais petroleiras, mas, mediante o concurso de metade delas no consórcio, neutralizou-se tal possibilidade, numa jogada de mestre do governo e que, ainda não é entendida pela esquerda tradicional que não consegue se situar neste mercado global nem um pouco honesto em suas práticas comerciais.

Pronto chegamos ao fim destas sucintas considerações.

Toda esta construção social e econômica foi necessária, para que se pudesse, simplesmente viabilizar uma empresa estatal(ainda assim de economia mista, e que, apesar de seu porte, impossível de comparar sua complexidade com a forma de manter e gerir um estado como o brasileiro) e tentar referenciá-la como patrimônio público brasileiro à revelia dos interesses do capitalismo mundial.

Este paralelo, prende-se a necessidade de se demonstrar a problemática de se gerir de forma independente e em benefício da população em geral, um Estado do tamanho do Estado Brasileiro, em meio aos interesses de um mundo capitalista oligolizado.

Pois bem.

Tal montagem e sua estratégia jamais foi acessível ao conjunto das pessoas, até mesmo porque isso inviabilizaria seu êxito, uma vez que não haveria como contrapor a mídia corporativa.

Pior, a esquerda tradicional, seja a ligada ao Partido dos Trabalhadores ou não, nunca aceitou tal pragmatismo, entendem que podemos ser uma ilha socialista ou termos alguns campos dominados pelo pensamento socialista, e que, nestes casos, o mundo capitalista irá nos aceitar, sem que nenhuma manobra mais drástica e destrutiva seja feito contra nós.

Vide o aparato da imprensa, a todo momento demonizando as iniciativas que englobem até mesmo a mínima intervenção estatal na economia.

O preço desta estratégia foi o relativo afastamento dos militantes mais a esquerda, que nunca concordaram ou mesmo entenderam tal foram de agir.

Como o governo não podia disputar ideologia, não tinha meios de disputar tal espaço, o outro preço que se pagou foi uma sociedade cada vez mais alienada dos destinos de seu país, que sente que algo mudou, mas não tem a compreensão dos motivos que levaram a tal mudança.

Entendo que, neste momento, ainda que não estejam tolamente consolidados os planos macro econômicos, o governo deve fechar seu último elo, disputar de forma exponencial tal projeto de sociedade(social democrata com forte intervenção estatal) e sensibilizar a população para que seja, a partir de agora, um parceiro consciente, não de uma utopia socialista, mas da concretização de direitos sociais à revelia do sistema capitalista, que, quando possível, a cada vez que a sociedade baixa a guarda, os retira de seu domínio.

A disputa será basicamente no campo das comunicações.

O passo fundamental foi dado. A lei que regulou a internet abriu a possibilidade para que se trave a mãe da batalhas.

Isso, a lei, uma vez aprovada, permite a liberdade na rede....e com a liberdade...permite aos contendores, povo (com os blogs sujos)... versus... mercado(com sua grande mídia).

Não foi por acaso que tanto a Presidente Dilma, após a votação da lei, quanto o Presidente Lula, passaram a atuar diretamente neste meio, criando a contra informação e possibilitando a liberdade tão sonhada na rede.

Estes são alguns pontos que devem estar no centro dos debates.

A renovação e a crítica à atuação de todos parlamentares, não só aos do PT, mas, inclusive, a todos profisionais da politica, que agora não tem mais o porto seguro de uma mídia cativa, pode ser fundamental na nova estrutura de país que espero esteja se avizinhando.

Trata-se de resguardar direitos e, esta luta, como salientado no post, não é mais cativa de algum segmento, mas passivel e desejável de ser apropriada por toda a sociedade.

Isto vale tanto para a classe média e dos escolhidos pelo empresariado para defender seus interesses, na busca de preservar seu status quo, quanto aos chamados sindicalistas profissionais, donos de ongs ou presidentes perpétuos de entidades da sociedade civil, os quais, sem exceção, terão que prestar contas diárias de sua atuação, sob pena de serem alijados de seus postos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.