sexta-feira, 11 de março de 2016

"Quem eram os índios que habitavam a região de Itapetininga?"

IHGGI
Helio Rubens de Arruda e Miranda
Presidente

Em 11 de março de 2016 15:52, IHGSP <adm@ihgsp.org.br> escreveu:

Prezado senhor,

Recebemos duas respostas: Uma do nosso sócio cacique Robson Miguel, que pressupõe que o nome Itapetininga foi dado pelos habitantes do local e outra do prof. Armando Alexandre dos Santos, que trabalha com a hipótese de que o nome foi dado pelos tupis que acompanhavam as bandeiras. Transcrevo as duas abaixo.


a) Cacique Robson Miguel

"Quem eram os índios que habitavam a região de Itapetininga?"

RESPOSTA: Eram os Índios Tupi-Guaranis.

JUSTIFICATIVA: O Brasil ainda possui 215 povos indígenas (embora o IBGE declare 305), com 182 linguas diferentes faladas; e pelas palavras existentes nos lugares, nome de rios, pedras, montanhas, etc, facilmente podemos identificar que tronco liguistico, e também que etnia vivia no local, uma vez que estes quem primeiro deram os nomes de identificação naquele local.

Portanto, a palavra “ITAPETININGA” pertence ao tronco linguístico Tupi-Guarani, ou seja, os indígenas que ali viviam eram da etnia Tupi-Guarani.

COMENTÁRIO EXPLICATIVO:

Antes de dar a tradução, ou melhor, a interpretação da palavra “ITAPETININGA” e a sua real tradução, que por coincidencia pertence ao meu tronco linguístico nativo, devo informar que em nossa lingua Tupi-Guarani os nomes escondem complexos códigos, no que o simples nome de um bicho, informa se o bicho voa, se cava buracos, se tem hábito diurno, noturno, se vive na agua, etc.

Nós indígena não fazemos “Toponímias”, ou seja, não colocamos nomes nos lugares; apenas informamos o que tem (ou tinha) naquele lugar.

Portanto, todos os nomes iniciados com “Ita”, significa Pedra, na lingua Tupi-Guarani; e o complemento informará a característica desta pedra.

Exemplo:

Itaú – Pedra-preta - Ita significa pedra; Ú-preta.

Itajú – Pedra amarela – Ita-pedra; Ju-amarela.

Itapeba, ou aportuguesado Itapeva - Pedra Chata - Ita é pedra; Peba, ou Peva significa Chata.

Itapemirim – Caminho de pedras pequenas – Ita-pedra; pé-caminho; mirim-pequeno.

Itapecirica – Pedra lisa – Ita-pedra, peb-achatado; syryk-escorregar.

Ou também: Ita-pé-cirica – Caminho da pedra lisa. Ita-pedra; Pé-caminho; Syryk-escorregar.

Itapetininga –Caminho da pedra seca - Ita-pedra; pé-caminho; tininga-seco.

OBS: O mesmo ocorre com a palavra “Piratininga” - Peixe seco, ou peixe a secar – Pira-peixe; tininga-seco.

O passar dos anos, somado à pouca importância que os portugueses e historiadores davam á lingua dos indígenas, muitos nomes foram mudados, alterados, ou registrados de forma errada, mudando o seu real significado, levando o nome de ITAPETININGA á ter outras traduções, dependendo da forma que este for pronunciado.

A palavra “Tinga” na língua tupi significa “Branco” ou “Branca”.

Exemplo: Caatinga significa Mato Branco, ou Mato Claro. Caá-mato. Tinga-branco¨.

A palavra “Tininga” significa “Seco”.

Caatininga- Árvore medicinal do Alto-Amazonas de cuja casca é “seca”.

Caapim, ou aportuguesado “Capim”- Mato pequeno. Caa-mato; Im,Pim, Mirim significa pequeno.

Se a cidade em questão (ITAPETININGA) fosse chamada pelos índios de: Itatinga-Pedra Clara, ou Pedra Branca.

Se fosse Itapetinga – Caminho da pedra clara. Ita-pedra; Pé-caminho; Tinga-clara.

Mas como seu nome é “Itáapé-tininga”, ou “Ita-pe-tininga” - Caminho das pedras secas, ou Caminho seco das pedras, e tendo em conta que as pedras claras (moledo) costumam ser mais fracas e moles que as escuras, Itá-pe-tininga também pode ser traduzida como “Caminho da Pedra Clara”, ou Caminho da Pedra Mole.


2) professor Armando Alexandre dos Santos

Alguns historiadores partem do pressuposto de que “podemos identificar o tronco liguistico, e também que etnia vivia no local, uma vez que estes quem primeiro deram os nomes de identificação naquele local.”.

Esse pressuposto parece-me questionável. Não é verdade que os nomes de identificação foram sempre dados pelos que viviam anteriormente naquele local. Nem sequer se pode afirmar que essa fosse a regra geral. Existem nomes de origem tupi em todas as imensidões palmilhadas pelos bandeirantes, desde o Tocantins até o extremo-Sul, mesmo em áreas que não eram povoadas por Tupis. Isso, pela simples razão de que os bandeirantes eram mamelucos, falavam tupi e se faziam acompanhar de tupis. Quando passavam por um local e viam alguma característica notável, nada mais natural do que passarem a chamá-la por alguma designação em tupi, para a usarem como ponto de referência. Isso era feito por iniciativa deles mesmos, não porque se informassem antes, com os moradores do local, como é que estes costumavam designá-lo... Mesmo porque muitas vezes os moradores do local falavam “línguas travadas”, completamente ininteligíveis pelos integrantes da bandeira. 
Por outro lado, é muito difícil dar alguma resposta precisa, sobretudo por causa do caráter nômade das tribos. Muitas tribos, de grupos distintos, podem ter passado pela região de Itapetininga. Por outro lado, durante o primeiro ciclo de bandeirismo, incontáveis índios de outras regiões distantes, pertencentes a vários grupos, foram trazidos para a região leste do atual Estado de S. Paulo, e aqui se misturaram com os índios do litoral e, também, com brancos e mais tarde com negros. Tudo isso se mesclou para produzir o nosso “caboclo”, fruto a meu ver muito feliz de uma composição multirracial.

De mais positivo, é certo que no início do século XVI em toda a faixa litorânea do Estado de S. Paulo predominavam tribos do grupo linguístico Tupi, aparentado com os Guarani e, mais para o interior, tribos genericamente designadas como Gês ou Tapuias, “de língua travada”. Eram Tupis os Guaianá, do nosso Martim Afonso Tibiriçá. Quase todas as informações que nos chegaram se baseiam em crônicas e relatos de brancos, missionários ou viajantes, provavelmente cheias de erros e imprecisões. Em Sorocaba, que eu saiba, foram localizadas urnas mortuárias identificadas com Tupis e traços culturais Guarani. Não sei dizer se existem pesquisas arqueológicas na região de Itapetininga, que não é distante de Sorocaba.

Sugiro também que se procure, no número 13 da RIHGSP, um artigo de J.C. Gomes Ribeiro, intitulado “Os indígenas primitivos de S. Paulo”, e no número 19 dessa revista (ano 1919) um estudo bem mais pormenorizado de Affonso A. de Freitas, intitulado “Distribuição Geográfica das Tribus Indígenas na Época do Descobrimento”. São estudos antigos, bastante hipotéticos, deduzidos de crônicas e testemunhos antigos e, portanto, com conclusões bastante aproximativas.

Att,

Patricia Rodrigues

Secretária da Diretoria

Sent: Saturday, March 5, 2016 7:42 PM
To: undisclosed-recipients:
Subject: Questão feita aol IHGGI

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